O ESPELHO DA MORTA
de lacyr schettino
É o espelho quebrado do quarto da morta!
É o espelho partido, sem face nem música!
No quarto da morta desdobra-se em ecos
o eco enrolado das teias de aranha,
de escuras aranhas tecendo, tecendo...
No espelho quebrado, num canto mais luz.
Dançam as geladas "echarpes" de vela e de espuma,
com que a morta, em meneios, dançava, dançava...
Lá fora orvalho badala nas úmidas plantas
e o luar tão neve - mais frio e mais branco que os dedos da morta -
repassa um harpejo que rola em desmaio no espelho sem dona!
É o espelho partido! Refletiu mil faces!
Mil vidas da morta desfilaram nele.
Enrolado em sombra, esgarça a lembrança
da que foi-s'embora com pecado e tudo;
da que foi mulher e hoje é anjo sem rosto
da que teve beijos e hoje tem silêncio;
da que teve sedas e hoje tem aranhas,
peludas aranhas rasgando a penumbra,
no terar do tempo tecendo, tecendo
um fio encorpado de poeira da noite.
Um comentário:
Eu imagino esse texto sendo narrado no começo de uma peça de teatro ou minisérie... mais uma vez arrebentando a boca do balão, demonstrando mesmo que tem talento pra escrever e criar... bjão.
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