quinta-feira, junho 05, 2008

overflowing


Rasga-me a pele e sente o quanto meu sangue tem vida./ Nada mais te pede, te quer, nada te necessita./ É rubra essa minha vontade de deglutir teus cabelos e beber de teu pranto vazio./ Rasga-me o peito e sente que tua dor é vã, / que tuas lágrimas são vazias./ Não cortam, não flagelam, retumbam no nada que te descreve em dias de perfeitos plenilúnios./ Nem tua covardia arranha meus passos./ Nem teu comodismo apaga as flores de outono colhidas no jardim do meu inverno./ Minhas entranhas jorram a maturidade do mundo/ e você permanece insosso nas palavras e nos vinhos./ Cortas os pulsos da noite que sorri de teus velhos pecados./ Tua pele não tem segredos, / teu sorriso não é brisa nos olhos de ninguém./ Abraçastes teu próprio inferno/ e Dante zombou de tua pífia tentativa./ Teus medos não constroem muralhas, senão previsíveis futilidades mesquinhas./ Ainda não aprendestes a viver em carne viva./ Ainda não amaste sem que houvesse outro dia./ Já não és tão raro como outrora/ e tua cama, um confessionário libidinoso de tua solidão descarada, / não te permaneces em nada,/ não te jogas aos uivos da noite,/ não te feres com unhas e dentes sedentos de cheiro e destino, desaprendestes a te vestir de lua./ És fraco!/ Não te perguntas o que é tão ausente?/ O que mal percebes como sombra?/ A delicada morte de um pássaro enterrado em nuvens/ te dirá a exatidão da beleza de mãos dadas/ em domingos hodiernos entre árvores, folhas e brisas de cores comuns./ E uma música tocará com notas vivas de lembranças que nunca vistes. / Perdeste, e isso é tudo.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que dizer dessas sábias e belas palavras! Agora entendi que suas lições estavam no vento dos dias mais tenebrosos que vivia. Suas lições, recôndidas no álveo dos rios desertos e assoreados, inseguros caminhos que tu cavavas ao se licenciar de si mesma, ao se silenciar como orvalho que amanhece na flor do teu desespero. Desfilavam na áurea das luas entristecidas de vicissitudes quânticas. Agora entendi. Eras a águia que tentava encontrar o beneplácito do grão da fome. A fome que se perdia nas areias da praia do inconformismo, que beirava as raias da lamúria e criava um arquipélogo dentro de mim. A tua verdadeira lição queria desprender a venda dos meus olhos, desses olhos que precisam enxergar mais do que os degraus que á frente surgiam, que precisavam se curar da treva branca. Olhos que precisavam se imergir no complexo atol de sóis interiores, que só irradiam seus feixes de luzes em olhares cândidos.
Hoje compreendi que precisava me libertar de aforemas produzidos por incisos e artigos, dispositivos que me desconectaram para o outro eu que mora dentro de mim: o eu "quântico", o eu "lírico", o eu "capaz". Olhos que precisavam desvendar o segredo do deserto que me habitava. Libertar esse eu, de supetão, é contra as regras de progressão de regime de cumprimento de pena. Primeiro tinha que passar pelo regime fechado, para progredir a semi-aberto e me reencontrar em Ulysses. Digamos que esse eu se liberta em cada paráfrase, em cada verso, em cada prece rezada ao inverso. Você: águia e espelho, universos paralelos e congruentes, mostrou-me a fome de amar o oxigênio que pulsa em minha veia e refletiu a minha verdadeira cara. Márcio

Bahasi disse...

de botão em botão (enter, clique, link, etc) achei isso TUDO aqui e fiquei (é, mesmo ainda no passado) embasbacada e sem nenhuma letrinha que esboce o que deveria dizer.

Prazer: Carol.

Chiara disse...

Paula,
minha boca está cheia de palavras que não consigo verbalizar.
Mas você é surpreendente em tudo, até em cozinhar,hahaha
Morrendo de saudades de você.