terça-feira, setembro 26, 2006

vôo com a asa quebrada



Momentos roubados
são aqueles que você
não soube tê-los comigo.

Misteriosa corrente que me leva.
São as águas e os ventos que corroem
esse mundo flutuante.
Se minha sensibilidade o sufoca
teus olhos de chuva,
quase sempre a guardam escondida.

Sou árvore perene.
Minhas folhas caem somente
quando o outono me alivia.
No inverno,
sou segredo gris,
que guarda comigo
a primavera da vida.

Não me arranque as flores,
pois nada mais quero
que elas lhe presentear.
Enfeitar sua vida,
com o gozo do melhor sorriso,
que como a felicidade
é dádiva temporária.

Merecedor ou não de minha doçura
sou eu quem lhe dará
o alimento para a fome do seu vazio
que é não saber ainda, me amar.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Resposta!


Eu não paro de fluir!
Foi assim que nasci,
como um manancial de palavras.
Não tive tempo de muito ouvir.
Fui abrindo meu caminho,
discutindo com o tempo
e perturbando o espaço
lá, acolá, aqui e ali.

Eu não paro de fluir!
As quedas que me vêm
são das águas que faço parte.
Profundas ou rasas,
de brumas densas ou neblinas delicadas.
Não escolho os vapores do dia.
São gotas, meandros meus
que invadem as terras dos outros,
fazendo novas trilhas e barrancos,
até plantando jardins...
campos de girassóis!
Contudo aqui me confesso:
nem sempre pedi ou peço tal permissão
e se me dão-na ou não,
posso me importar...
mas é que muito disso me esqueço.
Logo,
Sorrio...
Este é meu pedido de desculpas:
um sincero e singelo sorrir!
Pode ser que as nuvens peçam licença
ao sol e ao céu
para construírem o dia...

Ah! Eu não paro de fluir!
E nessa pretensão jocosa
Acredito, nada mais teço
senão uma delicada e garbosa presunção.
Se me ensurdecem,
Ouço as mais belas trovas.
Se me cegam,
Enxergo as cores e as luzes
que eles não vêem.
Mas nunca, nunca me calam!

Minha alma é imune à mudez dos homens.
Só me calo diante dos ventos,
das flores, da lua, da chuva,
do colo de minha mãe, do beijo de meu pai,
do sorriso dos meus irmãos,
e de Deus.
Da verdade dos reais amigos.

Fala! Fala! Fala!
Eu sempre grito...
Foi assim que expirei pela primeira vez,
num brado!
E até hoje grito;
Mas o que ecoa nem sempre reflete
o que em mim é meu íntimo.
Atravessa as correntes do som
breve, ríspido, suave,
e muito de mim se extravia.
Daí me culparem
Por eu ter tanta vida.
Definitivamente, as palavras podem ser
grandes espelhos,
mas nem sempre nos dão nossa melhor fotografia.
É preciso captar os detalhes,
ler as entrelinhas.
Conhecer minha inocência,
minha pureza, que
contra mim se rebela,
já que dá provas equivocadas
dessa minha alegria.

A verdade é que não desisto!
Não pararei de fluir...

sábado, setembro 16, 2006

A lua que eu quero lhe dar


Eu não vejo nada além da sensibilidade.
Só vejo a minha estrada,
essa delicadeza,
e o mundo que dela se perdeu.
Como é sempre estar nesse não-lugar?
Pedi ao mundo que parasse
para que dele eu pudesse descer...
Numa distração da vida
guardei nas minhas mãos seu sopro de hortelã...
a flor do meu olhar que sua presença rega.
Acho que faltou aquele delicado essencial...
pra guardarmos nossos corações
nos porta-jóias de conchinhas,
que peguei naquela praia,
aquela que sonhei
estar com você um dia.

terça-feira, setembro 12, 2006

Aos amigos baianeiros




A Bahia desceu até meu coração.
Dobrou as esquinas de Minas e nos
sentamos nos bares de seu Horizonte.
As músicas tornaram-se sorrisos e abraços cordiais.
Cantamos os amigos, os mendigos e os amores.
Amizade que florescia com as sementes
de muitos mundos e fundos e causos e Allá e orixás.
Muitas histórias se delatavam.
Entre uma identidade e outra
diferenças já eram completudes.
E perguntávamos: “Por onde andou meu coração?”
A lua cheia vagabunda respondia,
era ela a luz e a cachaça da lembrança:
a mistura certa da viola caipira,
Beto Guedes e os tambores do recôncavo.
Anarquistas e filhos de Marx e Engels
passeavam nos corredores do Mercado
trocando sorrisos e capital,
seja com a carteira ou com palavras.
Entre Ouro Preto e Mariana,
Salvador e as Gerais
eram eles: Arapiraca, Paulete, Geraldo, Carla e Nassau!

domingo, setembro 03, 2006

u seemed so real to me


Olhos que fingem me esquecer
são os olhos desejosos de me verem passar
pelas ruas, entre as gotas da chuva
ao sabor dos sorrisos e dos deuses.
Com lembranças já maduras
de tanto delas beber.

Olhos que não souberam me amar.
Que se perderam num desvio
Num descaminho qualquer.
Que se confundiram com o não pensar
e se esqueceram de como era bom sermos e nos estar.

Lapso shakesperiano...
Algo como Hamlet e seu MEDO do desconhecido.
Olhos de anjo caído no novo mundo
humano, imperfeito e partido.
Essa coisa sem sentido,
contudo intensa e que continua,
sempre, sempre desmedida.