quarta-feira, junho 27, 2012

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Uma folha em branco... um desassossego... um abismo entre a caneta e o papel. Transpiro cores e vôos noturnos... Já não sei quem sou e salto para as linhas que vejo. Tortuosas, dilacerantes e vertiginosas... Espelhos disformes e olhos cegos leem símbolos próprios, semiótica distorcida de um mundo que não é meu. Já não sei ser... estou simplesmente. A inquietude transborda e sigo entre cantos e unhas que acumulam desejos e sonhos que não são meus.

terça-feira, junho 19, 2012

to be



Sentir é para poucos. E o que fazer quando tudo que se sabe é sentir? Até a última gota, até o último fio de cabelo, até respirar se tornar a última coisa que o corpo se lembra de fazer... Até seus poros serem sua consciência e cada gota de suor se tornar um pedaço de alma livre... Que busca se expandir no outro, criando a soma de um. Nós nos aprisionamos em detalhes ínfimos, quando simplificar a vida é a ordem. E o que fazemos? Usamos caleidoscópios para enxergar o dia a dia, para enxergar o outro. Tememos porque não perguntamos, sofremos porque não agimos, lamentamos porque não ouvimos. Talvez o ser humano seja autodestrutivo por natureza ou é o meio que nos reprime? A pergunta é clichê, mas o pano de fundo se expande em uma teia complexa de significados e vivências mundanas que explicam tudo e nada. Sentir, hoje em dia, é para poucos.

quarta-feira, junho 13, 2012

M2



Não foram os beijos que não aconteceram, nem os poemas que guardei.../ Não foi sua limitação para a arte e a vida./ Não foram meus dias desmedidos./ Não foi a distância.../ nem o tempo!/ Cada um de nós celebra hoje a maturidade tempestiva,/ em construção.../ Muitos lábios se passaram e você continua o mesmo.../ mascarado entre segredos, desejos e sonhos./ Nunca fomos ou seremos./ Permanecemos numa ausência velada, / entre sua fantasia e minhas flores./ Na lacuna da minha inocência e na crueza e previsibilidade de quem você é./ Ainda não fomos honestos, mas sua fragilidade se expõe e eu reviro o que ficou guardado./ Nada restou, senão o perfume e a pele.

segunda-feira, junho 04, 2012

on the road

Revejo os pensamentos empoeirados e amarelados pelo tempo. Remexo as lembranças guardadas na estante e no sótão. Quantas caixas... quanta quinquilharia! Mas essa sou eu, repito. Pedaços de trinta e um anos completos e incompletos. Lembro dos desejos e ideais que mudaram e que mudarão com o tempo. A metamorfose do corpo. A transformação da mente. O incessante aprendizado que a idade transforma interna e externamente. As proporções e medidas mudaram, como os sonhos e a razão. Espero menos das pessoas que antes. Mas espero mais e cobro mais de mim, enxergando novas realidades e meus defeitos. Ainda advogo para mim mesma, com e sem culpa... Também reconheço as qualidades em construção. Quantas pessoas e histórias passaram por mim... algumas eu dei a importância medida... outras, nem tanto... Cresci e diminui de tamanho tantas vezes, nasci e renasci de tantas formas... me perdi, me encontrei... e ainda me perco e me encontro... "Minha competição com o vestido continua." E a mala tem reduzido de tamanho, mais selecionada. Errei algumas vezes a porta do sentimento, e persisto “Tenho que arrumar a mala de ser ”. (Citados trechos de Wislawa Szymborska e Álvaro de Campos)